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Exaustão feminina: por que tantas mulheres estão sobrecarregadas?

  • Foto do escritor: Psicóloga Thais Ramos Mendes
    Psicóloga Thais Ramos Mendes
  • 21 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 4 de set.

A exaustão feminina é reflexo de uma sociedade patriarcal que exige demais das mulheres. Entenda as causas e como a psicoterapia pode ajudar.


Uma ilustração em tons terrosos mostra uma mulher de olhos fechados, expressão cansada e uma lágrima escorrendo pelo rosto. Acima de sua cabeça, dentro de uma casa simbólica, há um bebê chorando, um relógio e uma pilha de livros com óculos apoiados, representando a sobrecarga e a exaustão feminina.

A idealização do sucesso e o peso invisível para as mulheres


Desde muito cedo, somos ensinadas a desejar uma vida ideal: uma carreira de sucesso, um corpo saudável, uma casa bonita, um relacionamento estável, filhos bem-educados e, claro, viagens internacionais nas férias. Essa imagem parece positiva — mas é, na verdade, um recorte idealizado e profundamente desigual.


O problema não está apenas na idealização, mas no que essa imagem oculta: as horas de trabalho invisível, o acúmulo de responsabilidades, o cansaço emocional, os silêncios, os conflitos, a culpa. E, principalmente, o fato de que as mulheres seguem sendo as principais responsáveis por sustentar esse modelo — quase sempre à custa de si mesmas.

Para muitas mulheres, esse modelo de sucesso não apenas é exaustivo — ele é cruel.



O que é exaustão feminina?


A exaustão feminina é uma sobrecarga física, emocional e mental vivida por mulheres que tentam corresponder a múltiplas demandas: profissionais, afetivas, familiares e estéticas. É o cansaço que não passa com uma boa noite de sono. É a sensação de que, por mais que se faça, nunca é suficiente.


Essa exaustão não nasce do nada. Ela é resultado de séculos de desigualdade de gênero, que moldaram expectativas e papéis sociais profundamente injustos. Ainda que o discurso hoje se apresente mais moderno e flexível, o que se espera das mulheres é, em grande medida, o mesmo: que cuidem do lar, dos filhos, do parceiro, da aparência, da carreira — e de tudo isso com leveza, gratidão e um sorriso no rosto.



As raízes patriarcais do cansaço feminino


Historicamente, as mulheres foram ensinadas a cuidar, a servir, a silenciar. Em sociedades patriarcais, o casamento era uma transação comercial — e a mulher, uma propriedade a ser passada de um homem a outro. Pureza, obediência e castidade eram requisitos para que tivessem algum valor social.


Esses valores ainda estão presentes, mesmo que disfarçados de “escolhas pessoais”. As mulheres são ensinadas a colocar as necessidades dos outros sempre à frente das suas. São cobradas para serem boas mães, boas profissionais, boas esposas — e, ao mesmo tempo, magras, calmas, bonitas e disponíveis emocionalmente.


Esse acúmulo de exigências resulta em uma sobrevivência emocional silenciosa, onde a mulher dá conta de tudo, mas raramente recebe o cuidado que oferece.



Sexualidade, cuidado e desigualdade


A forma como a sexualidade é construída para homens e mulheres também expressa essa desigualdade. O homem é incentivado a explorar, conquistar, satisfazer seus próprios desejos. A mulher é ensinada a agradar, a cuidar do outro, a reprimir seu próprio prazer.

Esse padrão não se limita ao campo sexual — ele está em tudo: nas relações afetivas, nos vínculos familiares, no trabalho doméstico, no autocuidado. Muitas mulheres não conseguem sequer se colocar como prioridade em suas próprias vidas.



Por que a exaustão feminina não é individual


Esse legado de desigualdade e sacrifício se infiltra em todos os âmbitos da vida cotidiana. Mulheres que trabalham fora seguem sendo as principais responsáveis pelas tarefas domésticas. Mulheres que optam por não ter filhos são julgadas como egoístas. Mulheres que priorizam suas carreiras são vistas como frias. Mulheres que se expressam sexualmente são julgadas como vulgares. Mulheres que pedem ajuda são vistas como fracas.


E assim seguimos, cansadas. Tentando dar conta de tudo. Achando que estamos falhando quando, na verdade, estamos apenas nos chocando contra um ideal impossível. É comum que as mulheres se culpem por estarem cansadas, sobrecarregadas, ansiosas ou tristes. Mas esse sofrimento não é sinal de falha pessoal — é consequência de um sistema social que historicamente exige demais das mulheres e devolve pouco.


A autocrítica excessiva, o sentimento de inadequação e o esgotamento físico e mental são sintomas de um modelo que precisa ser revisto — não apenas na sociedade como um todo, mas também na vida de cada mulher que busca resgatar sua autonomia e seu bem-estar.



Como a psicoterapia pode ajudar


A psicoterapia é um espaço de escuta, acolhimento e reconstrução. É onde se pode questionar os papéis impostos, reconhecer os limites, resgatar o desejo e construir uma forma mais livre e autêntica de viver.


Na clínica, investigamos não apenas os sintomas, mas também os atravessamentos sociais que geram sofrimento psíquico. E, com isso, podemos desatar os nós da sobrecarga — pouco a pouco, com compaixão e consciência.


Porque descansar não é fracassar. Questionar não é ingratidão. E cuidar de si também é cuidar do mundo.


 
 
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